27.8.06

Trança Rubra

Acalma-te, rapaz; não há razão para sentires medo. Não de mim, pelo menos. Se hoje vago sozinho por entre estas árvores, não foi por minha livre escolha. Não tenciono tomar-te o cajado ou o cantil; aproxima-te. A brisa insiste, convém sentar perto da chama. A lua é alta no céu, e brilha inteira: em noites como esta o espírito clama por uma história.

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21.8.06

Schadenfreude

Vingança, agora, onde há quatro anos
Havia apenas pranto! É no momento
Do teu tão aguardado julgamento
Que regozijo-me em cantos profanos.

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14.8.06

Desafio XII

Abriu a geladeira em busca das batatas. Notou com um suspiro de desgosto as prateleiras quase vazias; precisava fazer compras. Mas não agora. Preocupar-se-ia com isso depois do almoço.

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Com muito, muito atraso.

Alergia a poeira

Eu gosto de sebos. Na verdade, eu gosto muito de livros, ainda que o excesso deles já tenha gerado crises de proporções titânicas lá em casa, mas isso é assunto para outro post. Agora, quero falar sobre meu carinho especial por sebos.

Não sei explicar se é a iluminação meio precária, a falta de estilo no mobiliário, ou mesmo a expressão de enfado constante que alguns livreiros antigos costumam exibir, mas o fato é que sebos são muito mais poéticos do que livrarias de shopping. Talvez porque a consciência de que as obras num sebo já passaram por muitas mãos nos deixe menos inibidos a tocá-las. Eu certamente me sinto mais relaxada em sebos.

No entanto, sei bem que sou uma privilegiada. Pois quantos outros amantes de livros não são impedidos por seus próprios organismos de apreciar a poesia de uma edição caindo aos pedaços?

Sim, eles são muitos - conheço alguns. Anseiam por desvendar aqueles pequenos universos desarrumados, escondidos em ruelas do Centro, mas basta se aproximarem da porta que ela aparece: a tosse. Porque sempre se paga um preço pela poesia, e nesse caso o preço é a reação alérgica. A alergia à poeira que se desprende do papel velho e se acumula nas prateleiras das estantes.

Então, como meu amor pela literatura é maior que meu amor pela ruína, serei solidária com os (parcos) leitores deste blog abandonado. Volto, depois de muito, sem um motivo substancial para fazê-lo - o único propósito, meus caros, é espanar a poeira destes bits e bites, garantindo um mínimo de conforto aos visitantes destas paragens.

Prometo não parecer entediada. Mas se quiser DVD e cafezinho, meu filho, vai pra Saraiva Megastore.

14.7.06

Vagina não tem cabinho. Mas onde está o cabinho de Jejum?

- E que coisa é essa de cabinho?

- Regra de português. Seguidos de E ou I, quando tem cabinho, é com J. Quando não tem cabinho, é com G. Jiló tem cabinho, berinjela tem cabinho, gengibre não tem cabinho... aí eu e mamãe começamos a viajar em cima. Viagem não tem cabinho, aliás. Margem não tem cabinho - afluente, no máximo.

- (risos)

- Adição minha: vagina não tem cabinho! Mas me diz, onde tá o cabinho de jejum? (Que não tem nada a ver com vagina.)

- Hm... ah, claro! Você conhece alguma mulher faquir?

- Ahn, só a namorada do Rolo.

- Tá, ela é um traveco então.

- Ah, ok.

- Pensa: vagina não tem cabinho. Mas homens têm cabinho. E faquires são homens - logo, fazem jejum.

- ... Claro. Mulher não faz jejum. Faz REGIME.

- PERFEITO.

- Vai pro blog.

9.7.06

È FINITO!!! È CAMPEONE!!!

Depois de vinte e quatro anos sem títulos, eles conquistaram o tetracampeonato na disputa de pênaltis. Podia ser a descrição da vitória brasileira em 94, mas a frase também serve para a Itália, campeã da Copa do Mundo de 2006.




Bom, taí. O lead ficou legal. Se eu gostasse dos italianos tanto quanto gosto dos alemães, juro que desenvolvia a notícia toda. E com certeza ia mencionar o serviço de barbeiro em campo no Camoranesi, e a nova jogada brilhante criada por Zizou: a marcação-de-aríete.

6.7.06

You'll Never Walk Alone

Walk on through the wind, walk on through the rain
Tho' your dreams be tossed and blown
Walk on, walk on with hope in your heart
And you'll never walk alone



Acabou.

O apito derradeiro soa distante, como se não fosse real. Queria acreditar que não era; que ainda haveria mais dois ou três minutos de acréscimo, tempo mais do que suficiente para que acontecesse um milagre - para que subitamente o raio que não caíra em 120 minutos fulminasse duas vezes a rede adversária.

Mas acabou. Não há mais nada que possamos fazer, agora que todos desmoronamos sobre o gramado. Jens ainda está de pé entre as traves, cabeça baixa, olhando para os próprios pés e para a "Hand Gottes" que não fora divina o bastante para deter os dois chutes certeiros. Mas ele não tem culpa, depois de tudo o que fez por nós. Ao nosso redor, o inimigo em borrões de azul comemora, sentindo correr nas veias a euforia da vitória merecida. O preto-vermelho-dourado desaparecera.

Neuville balança a cabeça de um lado a outro. Queria ter feito mais, como todos nós, mas mal teve tempo de fazer qualquer coisa. Estendido sobre a grama, Kehl se martiriza por ter saído da grande área em nosso último ataque desesperado. Aceita a mão que lhe é oferecida, mesmo que não seja de um dos nossos, agora não importa mais.

Klinsi vai ao seu encontro. Incrível, inigualável Klinsi, que tira forças sabe-se lá de onde para erguer a cabeça e seus jogadores. Um a um, ele vai buscar em campo, parabenizando os adversários que encontra no caminho; bate palmas, tentando injetar em nós o mínimo de ânimo necessário para que abandonemos o estado de choque. Agradece a Bernd, levanta Lahm, apóia Lukas, ajuda a secar as lágrimas de Odonkor.

Alguém - Cannavaro, talvez - bate em meu ombro e me estende o tecido azul amassado entre as mãos. Observo o gesto, mas sem maldade alguma não consigo reagir. Ele, seja quem for, compreende; dá mais alguns tapinhas em meu ombro e vai falar com Miro, que parece um pouco mais calmo. Mesmo depois de tudo terminado, meu corpo se recusa a tirar o número 13 das costas, como se o gesto fosse o verdadeiro ponto final na ilusão.

Perto de mim Olli conversa com Jens, tenta oferecer consolo para a dor que apenas os goleiros são capazes de compreender. Klinsi aparece e me abraça paternalmente. Com a voz baixa e um sorriso triste, diz "estou orgulhoso", e pela primeira vez aparenta a idade. Ainda me diz qualquer coisa sobre treinos e esquemas táticos, algo que dê a impressão de que o trabalho continua, mas não consigo me concentrar nas palavras. Ele tampouco se importa. Há outros de nós que precisam de sua presença.

Pelo canto dos olhos, vejo a camisa vermelha de Frings erguer-se do banco e vir até onde estou; em seu rosto estampado o sofrimento do soldado que assiste aos companheiros caindo no campo de batalha, impedido de participar. Talvez, se ele estivesse conosco, nós pudéssemos formar a dupla que tanto funcionara até agora, dominando o meio-de-campo, fazendo com que tudo funcionasse. Mas não adianta pensar nisso agora, e não há justificativa na culpa que vejo em seus olhos. O abraço é forte, sofrido, dispensa qualquer palavra - mesmo porque elas são inúteis e inadequadas quando até um "tudo bem, Micha" soaria falso e ofensivo.

Me pergunto o valor da braçadeira de capitão enquanto a enrolo, lenta e cuidadosamente. É então que volto o olhar para as arquibancadas, e me dou conta de que o preto-vermelho-dourado ainda está lá, encharcado de lágrimas, colorindo as palmas e o coro de "Deutschland, Deutschland". Ergo as mãos para o céu e aplaudo também. É tudo o que me resta a oferecer.

29.6.06

My band is

Do blog da Anna, que viu no blog da Lili (não Lilly), que viu no blog da Calíope.


Describe yourself using one band and song titles from that band. Choose a band/artist and answer only in song titles by that band.

My band is Rammstein

Are you male or female: Mutter
Describe yourself: Spieluhr
How do some people feel about you: Engel
How do you feel about yourself: Morgenstern
Describe your ex girlfriend/boyfriend: Feuer und Wasser
Describe your current girlfriend/boyfriend: Wo Bist Du
Describe where you want to be: Moskau
Describe what you want to be: Dalai Lama
Describe how you live: Keine Lust
Describe how you love: Wollt ihr das Bett in Flammen sehen?
Share a few words of wisdom: Te Quiero Puta!

Sobre Meninos e Lobos

Desespero de los Perpetuos | Blanca Nieves | http://trovadoras.blogspot.com diz:
caraca, criatividade teu nome é mamãe. XDDDDDDDDDDDD
Gewiß von den Ewigen | Rosenrot | Ich werde immer bei dir sein... diz:
Anhé? XD
Desespero:
ela viu uma carinha de lobo no teu avatar.

e o pior, depois q ela explicou eu tb vi! XD
Gewiß:
Explica. XD
Desespero:
tapa o olho do reesh. XD
Gewiß:
Tapei.
Gewiß:
...
Gewiß:
Parece desenho de criança?
Desespero:
parece.
o "eyes" tá embaixo da boca.
Desespero:
aquela mancha vermelha é o olhinho. XD
Gewiß:
...
Gewiß:
Ah, eu vejo.
Gewiß:
Mas antes eu tinha visto outro, menor, e que parecia mais um chacal. XD
Desespero:
...
Desespero:
agora explica. XD
Desespero:
pera.
Gewiß:
Perando. XD
Desespero de los Perpetuos | Blanca Nieves | http://trovadoras.blogspot.com envia:



A transferência de "lobinho.bmp" está concluída.

Gewiß:
Deus. XD
Gewiß:
É, foi o segundo que vi. xD
Desespero:
como era o outro? XD
Gewiß von den Ewigen | Rosenrot | Ich werde immer bei dir sein... envia:



Você recebeu chacal_XD.bmp com êxito

Desespero:
mamãe tb já tinha visto. XD
Gewiß:
Ahá! XD

5.6.06

Conversores de vídeo, Sailor Moon e mutantes na farmácia

Death of The Endless ~ Butterfly diz:
(Caraca. Eu me odeio, eu odeio Sailor Moon, eu odeio Rosenrot e, principalmente, odeio o Windows Movie Maker. XD)
Desespero de los Perpetuos | Blanca Nieves | Eu ainda acho que a Jean Grey só precisava de um Atroveran. diz:
...
Desespero:
essa combinação é uma bomba. XD
Desespero:
(bom, eu me engalfinhei com o premiere pra editar esse trocinho aí. XD)
Death:
Ah, sim. XD
Death:
Mas, veja: eu consegui fazer um clipe de Sailor Moon com Rosenrot, mas a droga do Windows Movie Maker não quer salvar em .mpg!
Desespero:
o windows movie maker só salva em .wmv, num tem jeito. XD
Death:
É. XD
Death:
Não. XD
Death:
Não é. XD
Death:
Poiseah. XD
Death:
E não adianta nada! XDDDDDD
Desespero:
(bom, eu catei um conversor de wmv pra mpg...)
Death:
(Cretina. XDDDD)
Desespero:
o nome é qqr coisa como TMPGEnc.
Death:
...
Death:
"TPMGenc"? Tá de TPM? XDDDDDDDDDDDDD
Desespero:
qse. XD
Death:
XDDDDDDDDD
Desespero:
na verdade - se vc viu x-men 3 vai entender - quem tá de tpm é a jean grey. XD
Death:
...
Death:
Eu vou ver só nas férias. XD
Desespero:
...
Desespero:
bom, vc vai ver q ela tá de tpm. XD
Death:
Ok. XDDDD
Death:
...
Death:
Por isso ela precisa de Atroveran?
Desespero:
yep! XD
Death:
Quem sabe "Serenus"? XD
Desespero:
serenus é o q a serena tomava? XD
Death:
Claro! XDDDDDDDDDDDDDDDDDDD
Death:
Acho que a Jean Grey necessita de Lexotan. XD
Desespero:
ou prozac. XDDDDDDDDDDDDDDDDD

13.5.06

Desafio XI

"Enquanto existir um homem vai existir um puteiro." Era com essa frase que Eliseu Gomes Carvalho, o Gomes, declarava terminadas as noites nas Termas de Afrodite, pequeno estabelecimento de moral duvidosa na periferia da cidade. Naquela sexta-feira 13 de maio, no entanto, a rotina do bordel seria bruscamente alterada.

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12.5.06

Luz

Os olhares se encontraram; ele logo desviou o rosto, encabulado. Era sua primeira vez ali, primeira vez naquele mundo. Não que desconhecesse aquelas artes, muito já havia visto, ouvido e praticado nos círculos do colegial. Entretanto, jamais esperara um vôo tão distante dos planos familiares, e estranhava estar cercado de tantos tão obviamente mais vividos do que ele.

Como ela. Quer dizer, não sabia ao certo há quanto tempo ela estava no ramo - parecia jovem, mas daí todos ao redor imbuíam-se de pretensa jovialidade. De qualquer forma, experiência não se fazia no calendário simplesmente, e jovem que fosse, ela não demonstrava qualquer nervosismo. Intimamente, ele se perguntava se a falta de emoções vinha da habilidade de escondê-las ou da rotineiridade da cena.

Das duas uma: ali, sentada à sua frente e resignada em acompanhá-lo, estava uma excelente atriz - e o pensamento o atormentava um tanto, fazendo-o encolher os ombros em sinal de humildade. Mas oras, fosse mesmo tudo isso, ela não estaria ali, dando um punhado de luz à existência de um ninguém como ele, estaria? Não entendia muito bem a lógica daquele processo; recolheu-se à sua insignificância, pois era o melhor que sabia fazer.

Pôs-se a observar o restante da sala, os olhos fugindo como podiam da bela figura. Claro, o lugar encontrava-se apinhado de outras moças de beleza equiparável ou até superior à dela, que andavam de um lado a outro, gargalhando e fazendo gracejos para os cavalheiros ao seu redor. Riu-se em silêncio da mordaz ironia do Destino, que, dentre tantas senhoritas alegres e extrovertidas, foi escolher justamente aquela soturna e entediada demoiselle para seu par.

Conferiu mais uma vez o bulbo vermelho acima da porta; flamejava sem qualquer consideração por sua ansiedade. Apertou as próprias mãos, já excessivamente suadas, e pensou em tentar iniciar uma conversa amena com a companheira. Atreveu-se a contemplá-la, enquanto ela sugava placidamente o cigarro barato. Recebeu um levantar de sobrancelha e um sorriso, gestos pequenos que se por um lado o animavam por outro deixavam-no ainda mais paralisado. Ponderou se ainda estava em tempo de fugir, mas desistiu; recusava-se a admitir que ainda lhe faltassem os brios de homem qualificado.

A luz rubra continuava a brilhar alegremente enquanto ele corria os olhos pelo recinto ainda mais uma vez. Reparou como os outros rapazes travavam despreocupados colóquios com as garotas, alguns mesmos já ensaiando o que pretendiam apresentar a portas fechadas. Decidiu que aquela era a atitute que também deveria tomar, adiantar-se a conhecer sua misteriosa parceira de forma a aproveitar ao máximo o pouco tempo que lhes seria permitido (mas afinal de contas, não parecia que aquele outro casal estava há eras protegido pela iluminação cor-de-sangue?). Voltou-se para ela com a bravura renovada: faltaram-lhe as palavras. O cérebro absolutamente em branco.

Secou o suor da testa com as costas da mão; a moça, ele já notara, escondia um sorrisinho sarcástico por trás da nicotina. Pois justo então, no ápice de sua angústia, a cretina da lâmpada finalmente se apagara, e os dois enclausurados abriram caminho entre os demais - ele radiante, ela um tanto desgostosa.

Sobressaltou-se ao ouvir novamente a voz rouca e charmosa, depois de horas (ou teriam sido apenas alguns minutos?) de espera, dizendo-lhe "Vamos?" num sussurro pouco interessado. Ela descruzou as pernas, esmagou a guimba de cigarro com a ponta da sandália e se levantou; já de pé, estendeu-lhe a mão como o bom cavalheiro que ele era deveria ter feito. Pois foi então, olhando para ela, que ele se convenceu de que tudo daria certo - as falas que ele repetira milhões de vezes para si mesmo não serviriam de nada, o que importava é que ambos, ele e ela, conheciam bem demais os papéis que ali representavam, e no fim das contas aquela tão nobre arte lhe corria como sangue pelas veias; aquilo era por ele, para ele, seria ele mesmo e que o resto se danasse. Apertou a mão estendida e praticamente arrastou a moça, a passos rápidos, para o retângulo de luz amarela que os holofotes faziam surgir no vão da pesada porta de feltro cinza. Antes que se fizesse ouvir o grito de "gravando", os dois se fecharam para a balbúrdia do lado de fora, e a luz vermelha mais uma vez se acendeu.

11.5.06

Roca

Eu não sou filha de rei nem tenho madrasta má nem maldição nem porra nenhuma. Eu sou só uma garota idiota mimada e ridícula. A culpa é toda deles eles que me criaram errada toda errada. Meu pai minha mãe as dindas. Todos eles me mimando me superprotegendo me tratando feito princesinha. Olha que bonitinha ela que bonitinho o que ela fez. Aí não filhinha vai machucar a mãozinha. Sempre mantendo todos os riscos longe de mim porque eu era a idiota mesmo não ia saber me cuidar. Eu odeio todos eles.

Eu não sou nada daquilo que eles ficam falando. Que lindinha puxa que moça bonita você está ficando Aurora. Quanto tempo cada vez que te vejo está mais linda. Porra nenhuma. Eu sou uma ridícula idiota feia muito feia. Eles acham que eu sou idiota a ponto de acreditar nas babaquices que eles falam pra tentar me enganar com o continho de fadas deles mas não. Eu sei que é mentira. Tudo mentira. Eu não tenho nada de lindinha esse cabelinho loiro liso só serve pra esconder a podridão que eu tenho por dentro e que eles não enxergam ou se enxergam fazem de conta que não existe. Eu sou horrível.

Eu odeio todos eles. Menos a minha tia. A minha tia também é podre por dentro mas ela sabe disso. Ela sabe como é que é ela me entende. Quando eu era pequena a gente não se via muito porque ela nunca gostou mesmo de criança no que faz muito bem porque criança é uma merda mesmo. Mas quando eu comecei a ganhar peito ela foi a única que não achou bonitinho a Aurora ficando mocinha. Ela riu e disse que tinha pena de mim porque crescer era uma merda porque a gente sai daquele mundinho cor-de-rosa da infância e logo logo não ia ter papai e mamãe pra manter aquela mentira cor-de-rosa em volta de mim. Eu odeio cor-de-rosa.

Eu não gostava muito da minha tia mas gostava mais dela que da minha mãe e de todos os outros. Ela não ficava tentando esconder a podridão de mim não fazia a menor força pra manter aquela farsa ridícula de almoço de domingo e festinha de aniversário e vamos arrumar um namoradinho pra Aurora. Ela me deixava fumar e me cortar e dizia que se eu me achava feia é porque devia ser mesmo por dentro que é o que importa. E dizia que eu é que tava certa porque nós somos todos horrorosos por dentro. Eu sempre fui mesmo podre por dentro então eu achava muito sábio aquilo que ela dizia.

Eu continuava tendo que aturar aquela gente imbecil com historinha de que eu era uma moça muito bonita e devia me cuidar mais devia parar de fumar. Quando eles descobriram as cicatrizes no meu braço foi uma merda me levaram no psicólogo o caralho. Minha mãe deu um jeito de sumir com tudo que era faca gilete até folha de papel ela passou a vigiar. Minha mãe era uma neurótica mesmo ela realmente acreditava que era uma princesinha mas era tão podre quanto eu. A diferença é que eu sei como eu não presto. A Dinda Flora veio me dizer que achava aquilo um absurdo que uma menina tão linda não podia ficar se estragando daquele jeito. Eu queria mais que a Dinda Flora se fodesse.

Eu fiquei muito puta com isso. Eles tiraram tudo de mim eu já era uma inútil eles ainda tiraram a única coisa que eu sabia fazer. Filhos da puta podiam ter me trancado num hospício de vez eu preferia. Mas a minha tia me entendia. Ela dividia a podridão dela comigo e deixava eu mostrar a minha. Foi aí que ela começou a deixar as seringas pra mim. Ela me perguntou se eu sabia pegar veia uma vez. Eu disse que não eu não sabia fazer nada que prestasse. Ela me levou pro sótão ninguém nunca mexia no sótão mesmo e me mostrou como se fazia. E aí ela passou a deixar uma seringa prontinha pra mim toda semana no sótão. Ela sempre deixava as seringas com só um pouquinho mas já bastava. Eu injetava aquele pouquinho e via coisas muito lindas contos de fadas de verdade. Eu me via morta muito linda e calma no meu caixão sem podridão nenhuma só um corpo lindo e puro que deixava os homens todos loucos de tesão em ver aquele cadaverzinho lindo e sereno. Os outros meu pai minha mãe as dindas começaram a reclamar que eu andava esquisita desligada passava mal e sumia toda hora. Eles finalmente tavam vendo que eu era podre.

Eu fazia isso todo fim-de-semana e ela sempre deixava só um pouquinho na seringa. Só que aí um dia eu cheguei no sótão e a seringa tava cheia cheinha até em cima era até difícil segurar e apertar o negocinho atrás. Eu achei esquisito porque só um pouquinho já me deixava me ver linda de verdade. Então eu pensei a minha tia me entende e via que como eu era muito podre muito mais podre que o resto eu precisava de muito muito mesmo pra ser a princesa morta linda que eu via. Então eu injetei tudo. Então eu apaguei.


Eu acordei no hospital. Meu primo tava comigo. Ele não era filho da minha tia ela nunca teve filhos ele era de outra parte da família era meio distante. Ele era bem mais velho do que eu quando eu nasci ele já devia bater punheta vendo sacanagem por aí. Eu gostava desse meu primo porque ele fumava também e tinha barba e não ligava pro fato de ser podre. Eu acordei e perguntei onde eu tava. Tu é muito burra viu garota ele disse. Eu perguntei onde tava minha tia. Ele disse que ela morreu. Eu disse que ele tava mentindo que era outro filho da puta mentiroso igualzinho aos outros. Ele disse que ela era uma maluca e nem sabia se picar direito aquela vaca. Eu chorei. Eu queria quebrar a cara dele. Mas ele não fez nada nem riu. Ele pegou uma caixinha no bolso da calça abriu pegou uma bolinha e pôs na boca. Então ele me beijou e empurrou a bolinha com a língua pela minha goela abaixo e disse você é louca mas é linda e foi embora.

Eu fechei os olhos. Eu era linda.

4.5.06

Essa conversa tá me dando fome

(Ontem à noite, Saenz Peña.)

- Eu tô desde hoje de manhã com Auf Asche na cabeça.

- E os dois hambúrgueres?

- ... Sei lá. Devem estar nas orelhas.

- Eu não quero nem imaginar onde está o molho especial...

15.4.06

Se eu gosto do Schneider, e o Schneider se veste de menina...

Which Rammstein Fuck-Up Are You, Philosophically?


You touch your buddies *a lot* in public, you tend to glance at the boys' arses, and you are very grumpy around the ladies if your buddies aren't around. Plus, you're obsessed with Till's homosexuality because you can't admit to your own. It's okay, we'll love you even more if you'd just stop clamming up about it.

Take this quiz!


... Isso faz de mim uma lésb--eu sou lésbica?!

13.4.06

Which Member of Rammstein Will Choose You as A Groupie?

Ooh, Doom has set his eye on you girl!! You are in for a night of intense fashion co-ordinating while Doom pines to be one of the Queer Eye guys. Added bonus: if things actually do get uh heated, get ready to have Paul get in on the action since Doom and Paul are well...you know.. inseperable. You thought I was going to say something else weren't you....
Take this quiz!

12.4.06

Schneider é pizza e reina num Tupperware

- Eu devia dar ouvidos ao meu Schneider interior.

- Tem um Schneider dentro de você?

- Eu devia dar outra coisa ao meu Schneider interior. Pera, mas se ele já está dentro... (...) Ele deve ser contorcionista. Por isso que eu tô gorda! (...) Eu tenho que parir um Schneider. Tipo Macunaíma. E aí eu pratico incesto com ele.

- Laichzeit! E gorda porra nenhuma, ow.

- É, eu só tenho o Schneider na barriga. (...) Schneider é rei?

- É. (...) Vamos embora pra Pasárgada?

- Vamos.

- Legal. Schneider é Deus e manda em Pasárgada.

- Pasárgada é tipo a Taprobana.

- Putaquepariu!

- ... Pasárgada é um Tupperware?

- ... Agora você apelou.

- "Vou-me embora pra Pasárgada/Lá eu mantenho todos os meus nutrientes mesmo depois de levado ao freezer." Acho que isso é um sinal de que eu devo ir dormir.

- ... Caralho, eu tô gargalhando!

- Ahhh, obrigada, eu me esmero.

- ... Richard é uma das prostitutas bonitas pra gente (leia-se "eu") namorar?

- Se assim você desejar, meu bem. (Mas ele é uma cortesã real, também.)

- Ah, tudo bem. Com o Schneider eu até aceito dividir. (... Com você não, desculpa. A menos que seja uma parada a 4.)

- E eis que eu penso no Reesh com o vestido vermelho. E tá tocando o tango de Roxane ao fundo. (Ah, tudo bem. Eu sobrevivo sendo cortesã do rei.)

- ... Eu tinha pensado no vestido, mas faltava a trilha sonora.

- Roxane... you don't have to wear that dress tonight... (...) Ok, chega. Boa noite, boa sorte e até o Tupperware mais próximo. (Se bem que o Tupperware mais próximo da sua casa não deve ser o mesmo que o meu... argh!)

- Boa noite, boa sorte e lembre-se de que, no Tupperware, você terá quem você quiser, na cama que escolher. (Ah, eu não sou acomodada. Posso me deslocar.)

- Tá vendo? É o Schneider mesmo! (Tá me chamando de gorda?)

Religiosidade gasosa (sem cebolas, por favor)

- Enquanto isso, num canto obscuro da minha mente: "coooomo é bom-te-veeer, você chegooou na-horagáááá... adooooro pizza com-gua-ra-náááá..."

- Deus! (...) Não, pizza.

- Com guaraná.

- Deus com guaraná?

- Pera, o guaraná é tipo um apóstolo?

- Ou o Espírito Santo, sei lá.

- Isso vai pro blog. (...) "Em nome do Blog, da Pizza, e do Guaraná Santo, amém."

- Deus. Ou pizza! Já me perdi, diabos. (...) Ei. Nessa conjuntura, o que seria o diabo? O que é mais tentador que pizza e, a mesmo tempo, consegue ser o exato oposto?

- A Coca-cola? É concorrente.

- Boa!

19.3.06

Âmbar

A linha pontilhada aguardava pacientemente pela explosão de traços, enquanto ele, estático, inerte, impotente, nada podia fazer senão encará-la. Não era uma limitação física real, uma torção no pulso, um túnel do carpo, não; sabia que seus dedos ainda cumpriam perfeitamente com todas as suas funções, assim como sabia ser capaz de escrever qualquer coisa em pelo menos duas línguas. Mas por uma tolice, uma insignificância sem tamanho, se via incapaz de assinar o próprio nome. Também não era por esquecimento - ainda estava novo demais para chegar a esse ponto. A bem da verdade, o problema estava justamente nas lembranças que aquele longo sobrenome lhe trazia.

O engravatado senhor, despossuído da paciência do documento, lançava-lhe um olhar inquisitório enquanto batucava os dedos na mesa. Ele fingiu que não se incomodava - sacudiu a caneta, como se ela falhasse (nem haveria como saber, sem ter tocado ainda o papel) e atreveu-se a ensaiar a assinatura, medindo as palavras para que não ultrapassassem o espaço demarcado. E mais uma vez viu seu corpo inteiro se imobilizar diante daquele infame último nome, o caçula, um bebê ainda atrelado aos demais; mas que, em sua tenra idade, já se mostrava inconveniente.

Sim, pois aquele, diferente dos outros, era justamente o mais seu: o nome que não lhe fora imposto, que não estava lá quando ele aprendeu a unir suas iniciais, o nome que ele mesmo acolhera de livre e espontânea vontade. E justamente aquele que, ironicamente, mais lhe trazia sofrimento - não, não era da ordem da tragédia; mais um incômodo, a previsão de uma longa burocracia pela frente, o souvenir inútil de uma viagem que merecia ser lembrada de outras maneiras.

Com a certeza de que o homem atrás do balcão se distraíra por um instante de sua lenta agonia, conferiu o relógio. Ainda era cedo; talvez conseguisse resolver o impasse de uma vez e ainda tivesse tempo de passar em casa e ensaiar as palavras repetidamente como uma criança com seu primeiro caderno de caligrafia. Precisava daquilo, daquela rapidez de raciocínio (raciocínio?) se quisesse cumprir com seus compromissos, e não era homem de deixar coisas por fazer.

O papel continuava em branco.

Respirou fundo e, de um golpe, marcou a folha virginal com seu primeiro e segundo nomes; mas ao fim, novamente a mão se deteve. Depois de tudo, ainda valeria a pena acrescentar aquele apêndice, aquela criança marcada para o sacrifício? Teria já os devidos respaldos legais para expulsar o infante invasor de seu lar adotivo? Agora que já se acostumara com o jovem intruso, quanto tempo mais levaria para aceitar o nome (e a vida) de antes? Dúvidas, agora, onde antes só havia certezas - a certeza do primeiro olhar, do primeiro beijo, da primeira noite; questionava-se até onde ainda podia confiar em si mesmo, em suas impressões e intuições, se perguntava o quanto de tudo aquilo não haveria sido apenas uma grande tolice, um devaneio de um cérebro ativo demais.

Afogaria-se em perguntas, não tivesse voltado a importuná-lo o homem do estabelecimento; vendo-se diante da ameaça de ter a folha arrancada de sua mão mesmo incompleta, largou ali o sobrenome maldito, as curvas um tanto inseguras e talvez com um certo desleixo. Aquilo o incomodara tanto que decidira-se por cancelar tudo o mais que houvesse para ser feito; ligaria para um dos outros, daria uma desculpa qualquer - dependendo de quem fosse, talvez até dissesse a verdade: que não teria forças para escrever aquele nome centenas de vezes como um carimbo. Pela manhã pensaria nos trâmites confusos para mudar sua identidade.

Por ora, queria apenas dormir, e esquecer por completo quem era e quem um dia pensara ser.

28.2.06

Sobre gêneros sexuais e estereótipos

- E eu baixei coisas de AC/DC, pra ver coé... bah, vocais de gritinho.

- Ah, não gosto de gritinho.

- Música de viado. Não é à toa que o Schneider adora.

- ... É. Baixa Pantera, agora.

- Algo me diz que é mais boiola ainda.

- Com esse nome...

- Eu gosto de música de macho, porra!

- É!! *Coça o saco e cospe no chão.*

- Tipo... Mann Gegen Mann. *Arrota.*

- Zwitter! *Tapão nas costas.*

- ... Posso botar esse diálogo no meu blog?

26.2.06

Capitalistas não bebem leite

(Pós-DDK, 6 horas da manhã, eu e Lilly ainda acordadas.)

- Mas poxa, o Flake tava bem no clipe de Engel...

- É. Só que isso foi em 1997. Em 97 eu tinha dez anos. Sabe, ele tava bem quando eu era uma menina que parecia um menino e vestia pijamas quando saía de casa.

- É. (risos)

- Aí agora que eu fiquei essa coisa gostosa, ele tá aquele bagaço. (...) Meu Deus, eu roubei a beleza do Flake!

19.1.06

Teste seus conhecimentos

Abaixo estão alguns dos títulos (com suas respectivas sinopses) que fazem parte do acervo da produtora onde eu faço estágio. Assinale a única alternativa FALSA:


a) Agarrando-se Como um Gecko (Holanda, 2005)
Desafiando as leis da gravidade, este pequeno lagarto pode subir pelas paredes e superfícies lisas e cruzar o teto sem nenhum esforço aparente. Como explicar o fenômeno? Alguns cientistas acham que o gecko pode ter ventosas sob os pés; outros sugerem que o animal secreta um adesivo extremamente forte, semelhante ao das formigas.

b) O Projeto Genoma Estoniano (Estônia, 2005)
A cidade estoniana de Tartu é o coração do projeto de genoma estoniano. Coletando amostras de DNA de aproximadamente um milhão de pessoas, dentre os seus 1,4 milhões de habitantes, detectamos relações genéticas como hipertensão, doenças cardíacas, asma. A Estônia, novo membro da Comunidade Européia, torna-se também pioneira nas pesquisas genéticas internacionais.

c) Os Alces Desaparecidos (Nova Zelândia, 1999)
Em 1910, um rebanho de alces foi importado para a Nova Zelândia, a fim de ocupar a reserva de caça de Fiorland. Alguns foram abatidos pelos caçadores, outros morreram de velhice - e a espécie pareceu extinta, 25 anos depois. O naturalista Ken Tustine, entretanto, levantou a hipótese de que os alces não tinham desaparecido, mas se embrenhado no fundo da floresta de Fiorland. O programa acompanha este trabalho de investigação zoológica, que tenta decifrar o mistério.

d) Aterrissagem Forçada (Djibouti, 2004)
Uma criança nômade caminha no deserto. Lá longe, na beira da estrada, uma escola. A criança passa por varais de roupas e por mulheres cuidando dos animais de sua tribo. Será possível conciliar mundos tão diversos?

e) O Simbolismo da Kola (Mali, 1999)
A série semanal "Hoje? E amanhã?" quer trazer para o grande público do Mali uma linha constante de informação e debate sobre as questões científicas, relevantes para o país, especialmente nas áreas de saúde e de meio ambiente rural. Neste programa, o tema é a Kola, fruto ritual usado como oferenda em quase todas as cerimônias.

f) Todas as anteriores

g) NRA


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