14.7.06

Vagina não tem cabinho. Mas onde está o cabinho de Jejum?

- E que coisa é essa de cabinho?

- Regra de português. Seguidos de E ou I, quando tem cabinho, é com J. Quando não tem cabinho, é com G. Jiló tem cabinho, berinjela tem cabinho, gengibre não tem cabinho... aí eu e mamãe começamos a viajar em cima. Viagem não tem cabinho, aliás. Margem não tem cabinho - afluente, no máximo.

- (risos)

- Adição minha: vagina não tem cabinho! Mas me diz, onde tá o cabinho de jejum? (Que não tem nada a ver com vagina.)

- Hm... ah, claro! Você conhece alguma mulher faquir?

- Ahn, só a namorada do Rolo.

- Tá, ela é um traveco então.

- Ah, ok.

- Pensa: vagina não tem cabinho. Mas homens têm cabinho. E faquires são homens - logo, fazem jejum.

- ... Claro. Mulher não faz jejum. Faz REGIME.

- PERFEITO.

- Vai pro blog.

9.7.06

È FINITO!!! È CAMPEONE!!!

Depois de vinte e quatro anos sem títulos, eles conquistaram o tetracampeonato na disputa de pênaltis. Podia ser a descrição da vitória brasileira em 94, mas a frase também serve para a Itália, campeã da Copa do Mundo de 2006.




Bom, taí. O lead ficou legal. Se eu gostasse dos italianos tanto quanto gosto dos alemães, juro que desenvolvia a notícia toda. E com certeza ia mencionar o serviço de barbeiro em campo no Camoranesi, e a nova jogada brilhante criada por Zizou: a marcação-de-aríete.

6.7.06

You'll Never Walk Alone

Walk on through the wind, walk on through the rain
Tho' your dreams be tossed and blown
Walk on, walk on with hope in your heart
And you'll never walk alone



Acabou.

O apito derradeiro soa distante, como se não fosse real. Queria acreditar que não era; que ainda haveria mais dois ou três minutos de acréscimo, tempo mais do que suficiente para que acontecesse um milagre - para que subitamente o raio que não caíra em 120 minutos fulminasse duas vezes a rede adversária.

Mas acabou. Não há mais nada que possamos fazer, agora que todos desmoronamos sobre o gramado. Jens ainda está de pé entre as traves, cabeça baixa, olhando para os próprios pés e para a "Hand Gottes" que não fora divina o bastante para deter os dois chutes certeiros. Mas ele não tem culpa, depois de tudo o que fez por nós. Ao nosso redor, o inimigo em borrões de azul comemora, sentindo correr nas veias a euforia da vitória merecida. O preto-vermelho-dourado desaparecera.

Neuville balança a cabeça de um lado a outro. Queria ter feito mais, como todos nós, mas mal teve tempo de fazer qualquer coisa. Estendido sobre a grama, Kehl se martiriza por ter saído da grande área em nosso último ataque desesperado. Aceita a mão que lhe é oferecida, mesmo que não seja de um dos nossos, agora não importa mais.

Klinsi vai ao seu encontro. Incrível, inigualável Klinsi, que tira forças sabe-se lá de onde para erguer a cabeça e seus jogadores. Um a um, ele vai buscar em campo, parabenizando os adversários que encontra no caminho; bate palmas, tentando injetar em nós o mínimo de ânimo necessário para que abandonemos o estado de choque. Agradece a Bernd, levanta Lahm, apóia Lukas, ajuda a secar as lágrimas de Odonkor.

Alguém - Cannavaro, talvez - bate em meu ombro e me estende o tecido azul amassado entre as mãos. Observo o gesto, mas sem maldade alguma não consigo reagir. Ele, seja quem for, compreende; dá mais alguns tapinhas em meu ombro e vai falar com Miro, que parece um pouco mais calmo. Mesmo depois de tudo terminado, meu corpo se recusa a tirar o número 13 das costas, como se o gesto fosse o verdadeiro ponto final na ilusão.

Perto de mim Olli conversa com Jens, tenta oferecer consolo para a dor que apenas os goleiros são capazes de compreender. Klinsi aparece e me abraça paternalmente. Com a voz baixa e um sorriso triste, diz "estou orgulhoso", e pela primeira vez aparenta a idade. Ainda me diz qualquer coisa sobre treinos e esquemas táticos, algo que dê a impressão de que o trabalho continua, mas não consigo me concentrar nas palavras. Ele tampouco se importa. Há outros de nós que precisam de sua presença.

Pelo canto dos olhos, vejo a camisa vermelha de Frings erguer-se do banco e vir até onde estou; em seu rosto estampado o sofrimento do soldado que assiste aos companheiros caindo no campo de batalha, impedido de participar. Talvez, se ele estivesse conosco, nós pudéssemos formar a dupla que tanto funcionara até agora, dominando o meio-de-campo, fazendo com que tudo funcionasse. Mas não adianta pensar nisso agora, e não há justificativa na culpa que vejo em seus olhos. O abraço é forte, sofrido, dispensa qualquer palavra - mesmo porque elas são inúteis e inadequadas quando até um "tudo bem, Micha" soaria falso e ofensivo.

Me pergunto o valor da braçadeira de capitão enquanto a enrolo, lenta e cuidadosamente. É então que volto o olhar para as arquibancadas, e me dou conta de que o preto-vermelho-dourado ainda está lá, encharcado de lágrimas, colorindo as palmas e o coro de "Deutschland, Deutschland". Ergo as mãos para o céu e aplaudo também. É tudo o que me resta a oferecer.