8.9.04

Estranhos


O primeiro �nibus estava muito cheio, ent�o me resignei a esperar o pr�ximo. Fiz bem. Subi; n�o demorou para vagar um lugar. Sentei-me ao lado de um rapazinho de ascend�ncia oriental, que cochilava. No canto em frente ao trocador, uma passageira habilmente comia uma espiga de milho cozido.

Passou pela roleta uma mo�a negra com longas tran�as rastaf�ri. Tive vontade de dizer que ela era muito bonita. Ela pensaria estar recebendo uma cantada, ou um convite para algum trabalho il�cito, e se sentiria ofendida. Mas eu tinha sinceramente achado ela bonita, e n�o tinha pensado em mais nada al�m disso... n�o � estranho como n�s inserimos significados muitas vezes inexistentes em tudo que ouvimos?

A mulher da espiga sentou-se; havia acabado de comer. Embrulhou o que restava num guardanapo, e n�o sei o que fez com ele depois (devo ter me distra�do nesse momento). Come�ou a ler um livro. Era "L'�tranger", de Albert Camus. No banco de tr�s, uma mulher no celular pedia ao Brito para passar um n�mero de telefone anotado na agenda preta, no dia de hoje. Nos bancos al�m da roleta, um menino com uniforme de escola p�blica e cabelos molhados falava de pol�tica; n�o consegui entender o qu�, mas ouvi os nomes de alguns candidatos a prefeito. Um pouco mais para tr�s do �nibus, um rapaz folheava uma apostila de partituras.

Ao sair, passei pela mo�a bonita das tran�as. Sorri para ela; ela sorriu de volta. Saltei no meu ponto, e o �nibus deixou de existir.

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