11.9.04

Estranhos - II


Passava pela rua um homem, um catador de papel�o ou coisa parecida, empurrando um carro de madeira. Seguia cantando, com um jeito um tanto embriagado ou louco.

N�o distingui as palavras. Mas parecia uma cantiga alegre, talvez contando uma hist�ria, um romance. Talvez apenas fossem uns neologismos, incoerentes para a nossa gram�tica. A melodia era atonal, estranha, o ritmo um tanto quebrado. Mas era algo bom de escutar, ao andar pela rua; aquele canto entre o jazz e o samba, misto de carnaval e Louis Armstrong com reminisc�ncias de lenda africana h� muito perdida, na voz �bria daquele catador de papel�o.

"Artista de rua", definiu o porteiro do pr�dio em frente ao qual eu passava. Pois n�o seria essa a arte mais m�gica, mais humana? Sem o aparato tecnol�gico de um show de rock ou a dist�ncia m�stica da liturgia - n�o seria mais arte o canto espont�neo e delirante do povo?

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