6.4.05

Escrever d�

O poeta � um fingidor:
Finge t�o completamente
Que chega a fingir que � dor
A dor que deveras sente...

Fernando Pessoa


Eu sempre pensei que entendia esse poema.

At� o dia em que eu comecei a imaginar uma cena aleat�ria, que n�o se encaixava em nenhuma das minhas hist�rias. Era um casal, e eles tinham uma discuss�o. Os dois ficavam magoados um com o outro. E � medida em que a cena se desenvolvia na minha cabe�a, eu fui descobrindo que eles brigaram porque o homem tinha tomado uma decis�o a respeito de algo que arriscava a vida dele. E a mulher estava zangada com ele por n�o mudar de id�ia, mas ao mesmo tempo estava preocupada. Com medo de perd�-lo. E ao longo da briga ela falava isso pra ele, aos prantos. Ele sentia o amor e a preocupa��o dela, n�o queria mago�-la, mas n�o havia jeito - era algo que ele tinha que fazer... e no fim estavam os dois abra�ados, ela solu�ando no ombro dele, ele com os olhos marejados tamb�m.

E eu senti dentro de mim tudo que eles estavam sentindo. A raiva de n�o ter seu ponto de vista compreendido, a afli��o, a ang�stia da falta de alternativas, a impress�o de perda iminente. Sem viver nada daquilo, eu estava sofrendo a dor deles - e que era minha tamb�m, porque afinal eles e toda a situa��o era inven��o minha.


E depois de refletir acerca de tudo isso, num outro dia eu meio que associei essa id�ia da "dor que n�o � sua" ao teatro; e conclu� que o ator � aquele que chora a dor de tr�s pessoas: do personagem, do escritor e dele pr�prio. E tudo isso pra permitir que a gente chore junto, sentindo nossa pr�pria dor.

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