10.8.09

Dois centavos sobre política

Uma coisa é certa: eu não gosto de falar de política. Não gosto. Sempre fico achando que tudo que eu disser sobre o assunto vai ser um monte de tolices ingênuas/utópicas/perigosamente esquerdistas/perigosamente direitistas. Aliás, logo de cara já aviso que pra mim todas as filiações políticas se resumem a seres humanos batendo cabeça das formas mais complicadas possíveis. Iguais em princípios, mais iguais ainda em fins (se esses fins seriam “a felicidade geral da nação” ou “nossos bolsos cheios e longe da mão dessa gentalha”, aí depende do momento e do lugar).

Agora, quando toda a imprensa e a sociedade culta se juntam pra defender uma mesma ideia, aí eu não posso deixar de ficar com a pulga atrás da orelha. Ou vai dizer que você também não tá achando esquisita toda essa comoção em torno do Senado?

Afinal, que aquilo lá sempre esteve cheio de gente corrupta, até o seu Manoel da padaria sabe. E digo isso sem pensar em nenhuma figura política específica entre saneys, collors e renans; não é só o Senado que é um ninho de cobras. Eu sei. Você sabe. E por mais que a gente procure não escolher em quem votar na base do uni-duni-tê, acho que ninguém, pelo menos ninguém da minha geração, tem a menor esperança de mudar essa situação indo às urnas.

Não sou do tipo que fica conjeturando que “oh, a mídia e os grandes estão tentando sabotar a candidatura da Dilma!” porque, sinceramente?, como escritora e leitora, esse tipo de enredo é chato demais pra prender minha atenção. Prefiro pensar em teorias da conspiração mais inspiradoras, do tipo grupos de poderosos fazendo os palhaços cantarem #fechasenado para pouco a pouco se instaurar uma ditadura ainda mais sanguinolenta que a de 64. Mas suspeito que a política brasileira não seja interessante o bastante pra render um bom roteiro de ação.

Além disso, estamos todos cometendo um erro imbecil. Culpar o Senado pelo que fazem os senadores é o mesmo que culpar o cristianismo pelo que fazem os cristãos (substitua pela religião de sua preferência – tal como os partidos, elas também se resumem a um bando de gente batendo cabeça). O Senado em si não é uma instituição boa nem ruim; bom ou ruim é o que fazem com ela.

E no fim das contas, não adianta fechar o Senado. Isso até poderia (e ainda assim duvido) jogar a crise política atual pra baixo do tapete, mas você continuaria tendo deputados, vereadores, prefeitos e governadores corruptos. E médicos, advogados, motoristas de táxi e vendedores de cachorro-quente corruptos.

O buraco é muito mais embaixo.

Um comentário:

Two Ways disse...

Line \o/
Coloquei lá no meu bloguito o seu link... e adorei esse texto... afinal, escrito por vc é sempre maravilhoso!
Boa quarta-feira!