17.1.05

Elegia: indo para o leito


Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;
At� que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
C�u cintilante, uma �rea ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado.
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, t�o de perto.
O corpo que de tuas saias sai
� um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cres�a o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que � o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco v�u
Aos homens: Tu, meu anjo, �s como o C�u
De Maom�. E se no branco t�m contigo
Semelhan�a os esp�ritos, distingo:
O que o meu anjo branco p�e n�o �
O cabelo mas sim a carne em p�.
Deixa que minha m�o errante adentre
Atr�s, na frente, em cima em baixo, entre.
Minha Am�rica! Minha terra � vista,
Reino de paz, se um homem s� a conquista,
Minha Mina preciosa, meu Imp�rio,
Feliz de quem penetre o teu mist�rio!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha m�o, meu selo gravo.
Nudez total! Todo prazer prov�m
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As j�ias que a mulher ostenta
S�o como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho de tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encaderna��o vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela � um livro m�stico e somente
A alguns (a que tal gra�a se consente)
� dado l�-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penit�ncia nem dec�ncia agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te � bastante.


Elegy XX: To His Mistress Going to Bed - John Donne, poeta, prosador e cl�rigo - 1572/1631
Tradu��o: Augusto de Campos

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