15.3.04

Caiu a ficha

Foi em 1992 que come�aram a surgir os cart�es telef�nicos no Brasil. Eu tinha 6, 7 anos, e n�o lembro muito de como era o sistema com fichas; lembro de ter sido uma luta pra conseguirem instalar uma linha telef�nica l� em casa, e tamb�m de que sempre tive horror a ligar para os outros, um medo inexplic�vel que me persegue ainda hoje. Lembro de ter achado o m�ximo quando meu pai comprou um Mobi (vulgo Teletrim, s� que de outra marca); uma colega de trabalho dele havia cometido uma extravag�ncia ainda maior, e gastara uma verdadeira fortuna num telefone celular.

Pulo para um assunto que aparentemente n�o tem nada a ver com essa introdu��o. Outro dia mesmo, enquanto a gente discutia sobre a festa de calouros e tinha id�ias para fantasias (o tema, at� ent�o, era Cinema; de l� pra c� j� deve ter mudado), a Laura me veio com essa: "ser� que algu�m vai se fantasiar de Baixo-Astral?" Risadas gerais, � claro. Depois, o Felipe comentou que o pior de tudo � que ele tinha visto os carros aleg�ricos da Caprichosos antes do desfile desse ano, e reconheceu o carro do Baixo-Astral. E a� foi aquele festival de mem�rias da inf�ncia: os filmes da Xuxa, os mullets do S�rgio Mallandro, os Trapalh�es, todas aquelas excelentes produ��es da Sess�o da Tarde, A Lagoa Azul, R�-Tim-Bum, entre outros.

Tudo isso no mais sincero tom nost�lgico. Hoje � que eu parei pra pensar: pera�, eu n�o tenho nem vinte anos! N�o � idade ainda pra estar nesse clima de "no meu tempo"! Acontece que o tempo, ultimamente, tem passado mais depressa. Foi nos anos 80 que surgiu a Internet, n�o foi? De l� pra c�, as coisas t�m acontecido num ritmo fren�tico, novidades surgem numa velocidade cada vez maior; tudo, ou pelo menos quase tudo, fica obsoleto do dia para a noite. Por isso n�s j� podemos dizer "no meu tempo" - vai ser v�lido, porque muito do que existia no nosso tempo de crian�a sumiu misteriosamente, ou mudou de tal forma que deixou de ser. A garotada de hoje n�o conhece Praga, Dengue, Cavalo de Fogo, Nossa Turma (aquele desenho dos bichinhos esportistas que tinha um alce chamado Montgomery, lembra?). Elas n�o v�em a Porta dos Desesperados, e pra elas a Mara Maravilha sempre foi evang�lica. As meninas de hoje n�o querem mais a casa da Barbie, mas a da Polly - que � muito menor e quase t�o cara; os garotos n�o t�m bonecos do Comandos em A��o - quando muito do Max Steel, mas aposto que a maioria prefere um game da hora pra jogar online com os amigos.

Para as gera��es anteriores, deve ser mais dif�cil, ou pelo menos mais chocante, se adaptar a essa corrida desenfreada de novos costumes; afinal, o mundo j� estava pegando embalo para essa corrida quando n�s nascemos. Mas mesmo pra gente � meio engra�ado. Parece que a gente est� ficando velho mais cedo (e olha que a cosmetologia tem feito de tudo para evitar isso).

E agora eu volto �quele assunto l� do come�o. A evolu��o das telecomunica��es no pa�s j� foi motivo de muita cr�nica. � uma coisa bastante recente - a gente ainda conheceu a Telerj, a gente acompanhou as privatiza��es, e vimos aquela casa de shows, o Metropolitan, virar ATL (agora Claro) Hall. Mas acho que nenhuma outra gera��o pode dizer, com a mesma amplitude de sentidos que a nossa, que viu a ficha cair.

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